A sincronicidade, conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung, refere-se à ocorrência de eventos que, embora não conectados por uma relação de causa e efeito, se mostram significativamente relacionados pela coincidência de seus significados. Essa ideia sugere que há uma profunda conexão entre o mundo interno da psique e o mundo externo dos acontecimentos. A sincronicidade nos convida a perceber que aquilo que ocorre no mundo dos sonhos e no inconsciente pode ter um reflexo direto e significativo em nossa vida consciente.
Os sonhos na infância, por sua natureza arquetípica, muitas vezes trazem recados profundos do inconsciente que só mais tarde podemos compreender em sua totalidade. Esses sonhos podem ser vistos como premonições ou como orientações para a jornada que temos pela frente.
Um exemplo poderoso disso é o sonho que tive aos nove anos, onde, sob um céu azul e um sol radiante, eu caminhava sozinha por um gramado até chegar a uma gigantesca escada, cuja extremidade não era visível. Essa escada, que tinha outras pessoas subindo com diferentes graus de dificuldade, revelava algo muito mais profundo do que parecia à primeira vista.
O sonho, em si, já carrega elementos simbólicos universais: a escada como um símbolo de ascensão espiritual, de desafios e de progresso na vida. As diferentes reações das pessoas subindo a escada — algumas desistindo com tranquilidade, outras voltando em chamas e em desespero — refletem as diversas maneiras como os indivíduos enfrentam suas lutas interiores e exteriores.
Quando adulta, ao me desenvolver na psicologia e reler os sonhos anotados na infância, eu pude perceber a profunda conexão desse sonho com o mito bíblico da Escada de Jacó, onde Jacó sonha com uma escada que une a terra ao céu, com anjos subindo e descendo por ela. Essa sincronicidade — a convergência do sonho da minha infância com um arquétipo tão poderoso como o da Escada de Jacó — revela a maneira como o meu inconsciente já estava antecipando para mim os desafios e a trajetória que eu enfrentaria ao longo da vida.
O fenômeno da sincronicidade nesse contexto aponta para a ideia de que minha vida estava sendo “mapeada” por essas imagens simbólicas. O sonho não era apenas uma visão passageira, mas um recado profundo do meu inconsciente, antecipando as dificuldades que eu encontraria tanto em minha vida interior quanto exterior. A escada simbolizava o convite para subir, para enfrentar esses desafios com coragem, e o sonho mostrava as consequências de eu enfrentar ou evitar essa jornada: tranquilidade, desespero ou transformação.
Hoje, ao olhar para trás, eu vejo como esse sonho foi um roteiro simbólico da minha experiência de vida. A escada gigantesca, que na infância parecia incompreensível, revelou-se um símbolo poderoso da minha jornada, com todos os altos e baixos, com todas as lutas internas e externas que eu encontrei pelo caminho. A sincronicidade, assim, serviu como um guia silencioso, mostrando que as sementes de nossas experiências futuras muitas vezes estão presentes nos sonhos da infância, aguardando o momento certo para serem compreendidas em sua totalidade.
Esse processo de releitura dos sonhos e de reconhecimento da sincronicidade não apenas valida a profundidade da sabedoria do inconsciente, mas também nos convida a permanecermos abertos(as) e atentos(as) às mensagens sutis que ele nos envia. Essas mensagens podem, como no meu caso, antecipar os grandes desafios da vida e nos preparar, de maneira simbólica, para o caminho que temos para percorrer.
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